O primeiro ano do segundo milênio marcou para sempre a história do mundo. Com exceção de Campinas que foram dois fatos que ocorreram. O primeiro foi o atentado das torres gêmeas World Trade Center na cidade de Nova Iorque. O outro, apesar de ter sido um dia antes, foi o assassinato do prefeito Toninho (Antonio da Costa Santos).
Era uma segunda feira do dia 10 de setembro de 2001. Meu horário no Jornal Correio Popular era das 16h até quando Deus quisesse. Só para dar uma noção de como era a redação do jornal o departamento de fotografia ficava na redação, ao lado do pessoal da arte e da sala de reuniões. Eram 23 horas de uma noite tranquila e eu já estava me preparando para ir embora. Era o último horário para descer a página para a gráfica. Saio da sala de fotografia e toca um telefone na redação que já tinha pouca gente nessa hora. Lembro do Tadeu (paginador), Paulo Planta editor do Diário do Povo e do Marcelo Pereira editor executivo da RAC (Rede Anhanguera de Comunicação) ainda estarem por lá. Eu nunca atendia telefones na redação, mas nesse dia não sei porque resolvi atender e essa ligação mudou a minha vida, a da minha cidade e chocou o Brasil e o mundo. Do outro lado da linha era o Martins. O Martins é fotógrafo e me disse o seguinte: Bassan eu tenho um rádio e consigo entrar na frequência da policia. E os policiais estão dizendo que um figurão da cidade acabou de ser assassinado, na avenida Makenzie perto do Shopping Iguatemi, mas eles não falam o nome do tal figurão (palavras do Martins). Tenho que confessar uma coisa a vocês, sabe quando você atende o telefone e meio sem vontade e tenta se livrar logo da conversa? Pois é eu incorporei essa coisa e comecei a repetir, beleza Martins obrigado por ligar vou dar uma checada na história, vou dar um rolé até o local, etc, etc, e desliguei o telefone. Nessa hora o Marcelo Pereira estava numa conversa com o Tadeu e ouvi o seguinte deve ser trote; perguntei do que se tratava e ele disse tem um louco ligando aqui dizendo que mataram o prefeito. Dei um grito Caralho só lembro de dizer pro Pereira não é loucura não é verdade acabei de atender um telefone agora me dizendo isso. Era essa história que o Martins estava tentando me contar. E entrei na sala de fotografia peguei alguns cartões de memória muitas pilhas sai feito louco e levei um rádio para me comunicar com o jornal. Quando cheguei no local tinha um carro no meio do mato e uma viatura da Policia Militar. Fiz muitas fotos de assassinatos na cidade portanto eu era conhecido dos policiais e como de costume eu chegava cumprimentava os policiais e ia entrando no local para registrar o fato. Mas nesse dia foi diferente, um tenente colocou a mão no meu peito e disse: ninguém tem autorização para entrar. Pensei até que ele não tinha me reconhecido e falei: "ô tenente sou o Bassan do Correio Popular" e ele respondeu que sabia quem eu era, mas naquele dia ninguém tinha autorização para entrar. Pensei fodeu. Tentei de várias formas ir até onde estava o veículo, mas não tive sucesso. Minha última tentativa foi perguntar ao tenente se era verdade que era o prefeito que esta dentro do carro. Normalmente os policiais responderiam sim ou não, mas ele me devolveu a pergunta e disse quem te falou? Nessa hora já não tinha mais nenhuma dúvida de quem estava morto dentro do carro. Nessa rua você só chega por dois lugares pelo Shopping Iguatemi ou pela rodovia Dom Pedro e a policia cercou essas duas entradas portanto só eu estava ali e mais ninguém entraria. Por todo lugar que eu ia um policial me vigiava. No dia seguinte teria uma reunião na Unicamp e o Toninho prefeito iria participar e também estava na cidade o senador Suplicy. Quando de repente chega no local do crime o Otávio Antunes trazendo com ele o senador quando vi essa cena liguei no Jornal e disse o que todo repórter ou fotógrafo gostaria de dizer, quando se trabalha em um jornal. "Parem as máquinas" Eu disse isso e nem acreditava. Quem ouviu foi o Paulo Planta eu disse Planta vem pra cá que mataram o prefeito Toninho. Nessa época Campinas ganhava os noticiários do Brasil devido a violência estabelecida na cidade, mas naquele dia especifico eu tive a sensação que Campinas tinha em média um policial por habitante e o meu policial naquele dia estava lá, ele não me dava sossego bastava piscar um flash e ouvir o cara dizer aos berros tirem esse filho da puta de fotógrafo dai. Essa avenida é separada por uma rede de energia entre as duas pistas e era de lá que fazia as fotos por ser muito escuro. Foi chegando muita gente no local e eu não conseguia ir além das fotos abertas. Quando o local estava quase tomado pensei é agora ou nunca. O terreno era bem grande e com a escuridão fui dando uma volta enorme e me aproximando do veículo já com os peritos criminais trabalhando. Quando estava numa distância relativamente razoável parei programei a câmera iso, velocidade, abertura, flash ligado pois teria só uma chance, dedo no disparador e dei mais um passo a frente, meus amigos era uma senhora valeta cai e conforme ia caindo eu disparava a máquina foi quando ouvi pela última vez a voz do policial. Alguém por favor tire esse fdp dai. Não tive dúvidas caiu a casa os caras vão me tirar levantei e comecei a disparar mas agora estava vendo o que fazia, percebi que alguns policiais estavam vindo em minha direção e gritavam sai, vai saindo, vai saindo, tirei o cartão da câmera com medo deles tirarem meu equipamento, mas pela minha surpresa eles só me tiraram do local, em algumas fotos o flash falhou, mas os peritos estavam fazendo fotos usando os faróis de uma viatura ai ficou melhor e consegui a foto que mostrava o corpo do prefeito dentro do veículo. O resultado desse tombo foi um rasgo em minha calça que ia da bunda até na altura do joelho. Quando voltei para a redação vi uma coisa que jamais vou esquecer: passava das 3h da manhã e a redação estava lotada, algumas pessoas foram chamadas, mas a maioria ficou sabendo pela televisão e foi para o jornal. Quem não foi chamado e só ficou sabendo no dia seguinte ficou puto pois também queriam fazer parte dessa história. O Correio foi o único jornal impresso do país a noticiar o crime e a edição saiu com caderno especial e tudo (inesquecível). Pra finalizar saímos da redação por volta das 5h30, eu o Paulo Planta e o Césinha outro editor executivo da Rac. Fomos tomar uma cerveja no bar da Linguiça, para baixar a adrenalina e para quem é de Campinas o bar dispensa apresentações. O Paulo Planta levou o print do jornal e mostramos ao garçom o que aconteceu naquela madrugada. O cara simplesmente não acreditou na história e lembro do Planta dizendo a ele: você é o primeiro cara a saber disso, você entrou para a história da cidade. Ele continuou não acreditando e fomos embora. Sempre fico pensando que quando o garçom ficou sabendo da história, deve ter pensado porra os caras estavam falando a verdade. A outra história é do dia 11 de setembro em Nova Iorque, mas essa história todo mundo conhece.