Uma doce lembrança (25/11/2013)

(29/10/2015 o dia que  a casa foi demolida)

Senta que lá vem história, essa é curtinha mas é engraçada.

Para quem não sabe sou campineiro da gema, e graças a minha profissão conheço a minha cidade como poucos a conhecem. No final dos anos 70 e começo dos anos 80, fui sócio do Clube Bonfim, e meu caminho para ir e voltar do clube era a Avenida Andrade Neves. Aos sábados tinha baile que acabava sempre às 4h da manhã. Como eu morava no bairro Santa Odila e os ônibus começavam a rodar somente após às 5h, para voltar para casa eu descia pela avenida Andrade Neves até o centro da cidade a pé para pegar o busão na Glicério. Sempre que passava na Andrade Neves e via essa casa dizia pra mim mesmo: preciso fazer a foto dessa casa que aliás tem uma arquitetura maravilhosa. E querem saber o motivo? Vou usar esse espaço para confessar que já roubei essa casa e também foi nela que aprendi o que não se deve fazer na vida. Quando acabava o baile no Bonfim eu descia pela avenida e naquela época existiam poucas padarias. O pão o leite e o jornal eram entregues nas casas, os que são mais "experientes" sabem disso. Na saída do baile dava muita fome e a solução era roubar os pães e leite para mata-la. O jornal ia junto para me manter informado. Eu já estava acostumado pulava o muro baixo desta casa,  ia até a janela da sala, pois era ali que o padeiro deixava o café da manhã para os moradores. Mas um dia quando eu ia pegar o pão e o leite, não sei se o dono da casa estava esperando ou se foi pura coincidência. De repente a porta se abriu. O dono da casa saiu para apanhar o que o padeiro tinha deixado. Só lembro do susto que levei, nem olhei para a cara do morador. Até hoje ouço meu grito: padeiiiiiiiiiiiiiiiiiiro, como se eu tivesse deixando o pão ali, e desci a avenida em disparada, sem olhar para trás. Se alguém estivesse marcando, acho teria marcado tempo suficiente para disputar a final da prova dos 100m rasos. Fiquei muito tempo sem olhar para essa casa de vergonha em ser reconhecido pelo seu dono. Quase 40 anos se passaram e nessa última semana de novembro resolvi voltar lá e fotografar para contar essa história. Enquanto eu estava fotografando passou esse filme na minha cabeça e fiz as fotos com um sorriso moleque no rosto, mas torci para ninguém abrir a porta. Bom dia pra você que já cometeu essa delicia de delito.