sábado, 12 de outubro de 2013

"Cidadão", segundo Zé Ramalho (12/10/2013)










Senta que lá vem história, e que história. Essa foi vivida ontem, dia 12 de outubro de 2013. O protagonista desse "causo" foi o "seo" Joaquim, sujeito simples que veio lá das bandas de Minas Gerais tentar a vida aqui em Campinas na década de 1960, e isso já foi no século passado pra começar a história. Quem ganhou com isso foi a cidade. 
Dias desses postei uma foto da torre da Igreja Liceu que está passando por reformas. O Sidnei Flaibam, viu a foto e comentou que conhecia o homem que ajudou a construir a torre da igreja. Comentei com o Sidão que gostaria de fazer uma foto do tal homem no local, para contar a história no meu blog. (bybassan.blogsppot.com). A coisa foi tomando formato e entrei em contato com a Arquidiocese de Campinas por intermédio da Bárbara Beraquett, que é assessora de imprensa de lá. Ela consultou o padre Ademar sobre a possibilidade de fazermos a foto. Só que eu queria fazer uma foto com o "seo" Joaquim lá em cima na torre, o padre não achou prudente que subíssemos na torre. Ele tinha lá suas razões. A torre está passando por reformas e poderia acontecer algum acidente. Tudo isso pra falar do "seo"Joaquim.  O homem é pedreiro, e dos bons, tem um curriculo de respeito. Foi um dos quatro pedreiros que colocaram a santa no lugar mais alto da igreja, e isso aconteceu em 1966.  "Tá na carteira seo moço", exibiu "seo" Joaquim com orgulho. E estava lá mesmo, 30 de julho de 1966, é mole? O empregador era a própria paróquia. O outro "trabalhinho" do seo Joaquim foi nada menos do que a construção do prédio do Ciclo Básico da Unicamp. Disse ele  que foi o segundo prédio construído na Universidade. "seo"Joaquim é um homem com mais de 70 anos de muitas histórias. A mais intrigantes delas é a aquisição de meio terreno, (isso mesmo, meio terreno), que ele trocou pela bicicleta que usava para ir de casa ao trabalho e do trabalho para casa. 
Quando chegamos no Liceu e o padre Ademar viu o pedreiro liberou de imediato a subida dele até os pés da santa. A razão foi muito simples: de todos que estavam no local o "seo" Joaquim , mesmo sendo o mais velho, era o mais bem preparado fisicamente. A minha idéia era subir com ele até lá em cima, mas quem me conhece sabe que altura não é meu forte. Então fui o primeiro a afinar dando a desculpa que a foto ficaria mais interessante somente o personagem com a santa e eu registrando aqui de baixo. Subiram com ele algumas pessoas: entre elas o padre Ademar, o Sidnei Flaiban e o Fernando Trivelato, marido da Bárbara, e companheiro de trabalho na prefeitura de Campinas. Mas sabem quem foi o único a chegar aos pés da santa? Ele mesmo, o "seo" Joaquim. O homem esbanjava saúde. Pedi a ele que abrisse os braços assim que chegasse lá no alto. E as fotos estão aí, com o relógio da igreja marcando o horário da escalada.  As ferramentas que estavam espalhadas no local, por causa da reforma, não foram obstáculos para ele. Segundo o Sidão, "seo" Joaquim se emocionou ao fazer a escalada. Para mim ele falou que sempre que passa por ali com os filhos e netos comenta que foi um dos quatro homens a colocar a santa lá em cima. Também disse que tinha vontade de contar essa história para mais pessoas, mas acha que não acreditariam nele. Acho até que ele tem razão. Tem uma música de Zé Ramalho chamada "Cidadão" que fala sobre isso. Aliás, quem quiser, que  viaje um pouco ouvindo-a enquanto lê essa história. Vocês vão entender o porquê.
Quando postei a primeira foto da torre, comentei que subir até o alto dela era uma ótima oportunidade de se pagar os pecados. Ao chegar ao topo Deus já teria perdoado todos. Sei lá se o "seo" Joaquim tinha mais algum pecado, mas se o tinha agora tá zerado. 
Quando o pedreiro desceu da torre comentou que na época da construção passou por duas situações difíceis: uma delas foi quando tropeçou no menino Jesus que está no colo da Nossa Senhora Auxiliadora, e quase caiu do andaime que era uma tábua de no máximo trinta centímetros. A torre tem 58 metros de altura e a santa de três a quatro metros. Olhando de longe ela parece maior. Um tombo seria fatal já que na época os equipamentos de segurança nem existiam. A outra situação difícil foi a convivência com o padre que acompanhou a construção da igreja. Ele era italiano e "seo" Joaquim contou que não entendia nada que ele falava e por isso eles acabavam brigando. Mas ele brinca e diz que já perdoou o padre dando um sorriso tímido, e completa dizendo que certamente o padre também o perdoou. 
Mais uma coisa que aconteceu para deixar essa história ainda mais interessante, é que quando marcamos o dia de hoje 12 de outubro de 2013 para fazermos essas fotos nem passou pelas nossas cabeças que era o dia de Nossa Senhora Aparecida. Posso garantir que no mínimo saímos do Liceu mais abençoados do que já somos. No caminho de volta para a casa  já deixamos mais ou menos acertado, com o "seo"Joaquim uma foto no Ciclo Básico da Unicamp, onde publicamente faço um pedido de autorização para essas fotos (pode me ajudar nessa Alvaro Kassab?). Segundo "seo"Joaquim, na Unicamp é até mais fácil, porque lá ele nem precisará subir escadas. Bom domingo a todos! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário