Na profissão de repórter fotográfico aprendi muito vendo de tudo que se possa imaginar. Vivi momentos de pura beleza. Senti na pele as dores de pessoas que nada mais tinham a perder. Senti sede, fome, calor, frio, nojo, medo, pavor e por ai vai. Aprendi também algumas lições que a vida nos dá. Vou aproveitar para contar uma história que já tem muitos anos, mas que cabe aqui como reconhecimento. Aproveito também para publicamente agradecer uma lição aprendida. A coisa é tão antiga que aconteceu ainda no segundo milênio. Certo dia o Sergio Carvalho (Serjão), então editor de fotografia no jornal Correio Popular aqui de Campinas, fez uma reunião com todos os fotógrafos da "firma" e comunicou o seguinte: "pessoal chegaram as câmeras digitais e a partir de amanhã todos os fotógrafos vão passar a usar essas novas máquinas. Alguma pergunta?" Até hoje não sei se fiz a coisa mais certa ou mais errada do mundo. Estávamos todos sentados na sala e o único em pé era o Serjão. Juntei toda a minha arrogância e de uma maneira até desrespeitosa disse a ele que eu continuaria usando a Nikon F4 e que não pretendia nunca usar a digital, bla, bla, bla...O Sejão olhou para mim cruzou os braços e disse, "é mesmo Bassan?" respondi, "sim, é mesmo Serjão" num tom desafiador. E ele falou, "então Bassan é o seguinte a partir de amanhã ou você começa fotografar com a digital ou vou te demitir". Porra o cara me quebrou, calou minha boca no meio de todo mundo e pior ainda o cara é mais novo que eu. Se fiquei com raiva? Raiva não eu fiquei é puto mesmo. Fui pra casa pensando naquela reunião e cheguei a seguinte conclusão. Acabou.
Tinha vivido cada etapa da fotografia, revelando, retocando, imprimindo, ampliando tudo em PB. Depois veio a era do colorido passei por esse processo também. Mas digital isso não, eu não faria. No dia seguinte acordei com outro pensamento, Bassan ou você muda ou está acabado. Uma voz bem baixinha falava isso no meu ouvido: vai lá, a vida é um eterno recomeço a era digital chegou e quem não estiver nela estará definitivamente se isolado no mundo. Foi uma semana de aprendizado, perdi algumas fotos, errava os programas de um treco inteligente no qual eu quase desisti, mas superei. Reaprendi com a nova geração, às vezes me sentindo ridículo e outras vezes agradecendo por eles estarem ali ao meu lado e ensinando o "arrogante aqui". Serjão, meu irmão, muito obrigado pela paciência, pela compreensão, e sinceridade. E mais que isso, obrigado pela lição!
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