sábado, 20 de novembro de 2010

Inclusão (muita emoção)

Senta que lá vem história. E essa é de chorar.
Época de Natal, famílias nas ruas comprando presentes. Festas, alegria, correria etc. E eu mal sabia o que estava para me acontecer. Nesse dia tinha apresentação de corais no Largo da Catedral. Fui escalado para fotografar o evento dando ênfase aos corais. Quando as crianças começaram a cantar esse menino (de rua) que vocês estão vendo, se aproximou e me perguntou se ele também poderia subir ali para cantar. Porra, juro que nem acreditei quando ele me fez essa pergunta. Primeiro não sabia o que responder, depois disse "claro que pode". Ele retrucou: "mas não vão me deixar subir". Respondi que deixariam sim e ele confessou que tinha medo de ser tirado do palanque que foi ali instalado para as apresentações. Não tive mais nenhuma dúvida, no intervalo entre uma música e outra, pendurei minha câmera no ombro e o ajudei a subir e se posicionar junto com os incluídos. Nem olhei para as pessoas que estavam na praça, pois sabia que com essa atitude nem todos concordariam. Por isso o título da foto é inclusão. O mais emocionante ainda estaria por vir. Quando o maestro começou a reger novamente o coral, foi de arrepiar. A música seguinte é muito conhecida e ficou ainda mais depois dessas manifestações que levaram milhões de pessoas para as ruas e aos estádios de futebol. Quem nunca cantou : Eu/ sou brasileeeeeiro/ com muito orguuuulho/ com muito amooooorrr. Todos que ali estavam cantavam essa música, mas meu olhar e meus ouvidos eram só para esse menino e fui me arrepiando e me emocionado de uma maneira que nem sei descrever. Ele cantava de braços cruzados, mas com uma emoção e com orgulho, que ali naquele instante ele representava o brasileiro que todos estavam cantando. Vocês querem saber se chorei? Chorei pra caralho e me senti um covarde sabem por que? Porque me escondi atrás da câmera. Foi esquisito fotografar e chorar ao mesmo tempo, nunca tinha acontecido isso comigo antes. Aquele menino frágil me fez desmoronar e para quem não me conhece tenho 1,95 metro de altura. Quando a apresentação estava chegando ao final e as lágrimas já tinha secado o único vestígio eram os olhos vermelhos. Uma pessoa notou, mas eu desconversei.  O garoto desceu e pediu um gorro de Papai Noel igual ao que os outros meninos estavam usando. Nem me lembro para quem pedi, só sei que fui logo atendido e dei o gorro a ele. O menino me perguntou onde veria a foto que eu estava tirando e eu respondi que era para o jornal Correio Popular, mas que levaria uma das fotos para ele, no dia seguinte e marcamos o nosso encontro em uma banca de revista ali mesmo em frente a igreja. Ele me agradeceu e saiu andando. Ainda não tinha saído do local quando vi uma senhora (aliás uma filha da puta de uma senhora com todo o respeito que ela merece), tirou o gorro do menino sem mais nem menos. Nessa hora eu me senti um verdadeiro bosta por não ter interferido novamente, e isso até hoje me incomoda. Talvez por não acreditar que aquela senhora tivesse feito o que fez. Graças a Deus nunca mais vi aquela mulher e se a vir jamais vou lembrar da cara dela. Saí de lá direto para um laboratório fotográfico e mandei ampliar essa foto no tamanho 20x25cm. No dia seguinte levei a foto para o garoto no horário e local combinado. Fiquei por lá uns 15 minutos esperando por ele que nunca apareceu. Mostrei a foto para o dono da banca e perguntei se ele conhecia o menino. Ele respondeu que o garoto estava sempre por ali, mas que naquele dia ainda não o tinha visto. Deixei a foto com o cara e pedi para ele entregar ao menino. Infelizmente nunca mais vi aquela criança e nem voltei à banca para perguntar se a encomenda chegou ao destino. Talvez por medo de receber a notícia de que ele estaria morto. Crianças como ele são conhecidos como (bicho solto) e infelizmente têm vida curta. Essa história meus amigos, não é como novela. Não teve um final feliz. Mas foi emocionante e marcou. Sempre me pego pensando naquela cena, a mulher (fdp) tirando o gorro das mãos do guri e ele com um olhar de ódio e decepção entregando a ela tudo o que teria naquele Natal, o gorro. 

3 comentários:

  1. Também me emocionei. Só não entendi que mulher é essa que tirou o gorro do menino.

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  2. Mais uma linda história Bassan. Só alguém que tem o coração do seu tamanho poderia fazer dessa forma. Amor, realmente se distribui. Vc fez a sua parte. Bjos

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